Um dia, uma velhinha, daquelas velhinhas de cabelos brancos e rugas no rosto escuro de Angola, que já viram muita vida a passar e aprenderam muita coisa com ela, daquelas velhinhas santas que sustêm o Mundo com a sua oração e sabem ouvir com muita paciência e bondade os mais novos, que já choraram muitas lágrimas e sabem calar a dor, um dia a velhinha disse-me:
- Preciso de te dar uma palavrinha…
Admirada e felicíssima por a anciã me querer dizer algo, logo vou ter com ela, com aquele corpinho franzino pela doença e mãos delgadas e perfeitas de costureira de anos.
E eis o que ela, por detrás dos óculos redondos escondendo uns olhos lindíssimos cinzentos e azuis de Angola que sabem ver as almas das pessoas que até ficamos com medo de que veja algum segredo que queremos esconder, eis o que ela tinha para me dizer:
- Filha, tenho olhado muito para ti, sabes?... E queria dizer-te… que tu podes ser santa! Tu vais ser santa, se quiseres. Daquelas santas heróicas, de altar mesmo. Porque tens algo que eu não vejo noutras pessoas. Escuta bem o que te digo: o caminho da santidade é a subir e é como a encosta de um monte escarpado, mas nunca desistas. Não queiras chegar lá cima num dia. Tens de caminhar muito, sabes? E vai custar- te muito muitas vezes. Mas podes lá chegar. Ouve o que eu te digo: tu amas, mas não podes guardar esse amor dentro de ti. Se não é para dar, o amor não vale nada! Tens de ser como uma rosa que primeiro é um botão que vai abrindo as pétalas ao sol da Primavera, e se abre toda. Toda. Reparas? Tem uma maçãzinha que mantém sempre fechada para si. É lá que guarda as sementes, que lhe permitem manter-se viva. Tudo o mais, ela dá a quem passa: abre as pétalas e exala perfume, alegrando a existência de quem visita. Sabes qual é o segredo? Transparência. Vês esta chávena? É de vidro. E tu sabes sempre o que ela contém. Porquê? Porque ela é transparente e deixa que todos saibam o que vai dentro dela. Sê transparente. Sê aquilo que mostras. Ou melhor mostra aquilo que és. Tens muito para dar, filha. E não temas as lágrimas. Chora à vontade. É assim que se faz a vida.
Era só isto que te queria dizer.
Só pude chorar. Porque é uma velhinha, mais baixa do que eu dois palmos, que já viu muita vida vir e ir, uma velhinha que é santa tenho a certeza, que me vem dizer que eu devo sê-lo, porque posso.
Nunca me senti tão pequenina. Acho que nunca vi alma tão grande.
Quem sou eu?
Aos profetas da minha vida
17 de Agosto de 2004
- Preciso de te dar uma palavrinha…
Admirada e felicíssima por a anciã me querer dizer algo, logo vou ter com ela, com aquele corpinho franzino pela doença e mãos delgadas e perfeitas de costureira de anos.
E eis o que ela, por detrás dos óculos redondos escondendo uns olhos lindíssimos cinzentos e azuis de Angola que sabem ver as almas das pessoas que até ficamos com medo de que veja algum segredo que queremos esconder, eis o que ela tinha para me dizer:
- Filha, tenho olhado muito para ti, sabes?... E queria dizer-te… que tu podes ser santa! Tu vais ser santa, se quiseres. Daquelas santas heróicas, de altar mesmo. Porque tens algo que eu não vejo noutras pessoas. Escuta bem o que te digo: o caminho da santidade é a subir e é como a encosta de um monte escarpado, mas nunca desistas. Não queiras chegar lá cima num dia. Tens de caminhar muito, sabes? E vai custar- te muito muitas vezes. Mas podes lá chegar. Ouve o que eu te digo: tu amas, mas não podes guardar esse amor dentro de ti. Se não é para dar, o amor não vale nada! Tens de ser como uma rosa que primeiro é um botão que vai abrindo as pétalas ao sol da Primavera, e se abre toda. Toda. Reparas? Tem uma maçãzinha que mantém sempre fechada para si. É lá que guarda as sementes, que lhe permitem manter-se viva. Tudo o mais, ela dá a quem passa: abre as pétalas e exala perfume, alegrando a existência de quem visita. Sabes qual é o segredo? Transparência. Vês esta chávena? É de vidro. E tu sabes sempre o que ela contém. Porquê? Porque ela é transparente e deixa que todos saibam o que vai dentro dela. Sê transparente. Sê aquilo que mostras. Ou melhor mostra aquilo que és. Tens muito para dar, filha. E não temas as lágrimas. Chora à vontade. É assim que se faz a vida.
Era só isto que te queria dizer.
Só pude chorar. Porque é uma velhinha, mais baixa do que eu dois palmos, que já viu muita vida vir e ir, uma velhinha que é santa tenho a certeza, que me vem dizer que eu devo sê-lo, porque posso.
Nunca me senti tão pequenina. Acho que nunca vi alma tão grande.
Quem sou eu?
Aos profetas da minha vida
17 de Agosto de 2004
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