Azul, azul, azul a perder de vista.
Sobes por estradinhas a pique que fazem tremer o coração da mãe e suscitam o grito à Carmen.
Pagam-se os bilhetes (simbólicos: nada disto é pagável porque não é quantificável) e entras por um portão verde.
Estás no "Reino Maravilhoso" (deve ter sido aqui que se inspiraram os autores da "Polegarzinha").
Os olhos não chegam para conter tudo e as câmaras só registam um aperitivo.
A Madeira é uma toalha de flores com que Deus cobriu um pedaço de terra montanhosa que já não encaixava no Continente.
E para lá do portão verde fica o hall do Céu.
Verde, verde, verde. E branco e amarelo e rosa e vermelho e violeta e todas as cores que a tua imaginação te permita. Indescritível! Os cinco sentidos são assediados por aromas a terra e a sol e a àgua e a fotossíntese. O canto dos insectos e da água a correr. Plantas e flores fininhas e carnudas, agrestes e suculentas, de qualquer feitio. E palmeiras. E catos. E flores, flores, flores. Tudo está delicadamente no lugar para, no silêncio das tardes, os grãos de polén voarem para o coração da flor, onde o milagre da vida acontece. A brisa quente que abraça. E as aves faladoras (Meu Deus, não sabia que era possível ultrapassar-me!) aplaudem a beleza que nasce, sempre nova, sempre estonteante, sempre mistério!...
E achamos nós que sabemos muito!... Que temos a vida nas nossas mãos... Que fazemos as nossas leis...
Esterlícias, hortências, antúrios, alegrias do lar, violetas, amores perfeitos, só para dizer aquelas que reconheço... Mas as formas são inumeráveis! Dá vontade de colher e levar para casa, para poder repetir noutros momentos mais críticos esta genuína sensação de ser homem, irmão destas criaturas sinceras... Mas não.
Pegar numa delas para pôr no jardim (às escondidas do jardineiro) tirar-lhe-ia a vida. Porque a grandeza e a exuberância está no contraste, na diversidade, na saudável competição das suas vaidades. Uma sozinha não atrairia o olhar do viajante. Não faria festa... É como os homens. É quando estão juntos que descobrimos a maravilhosa sinfonia de personalidades, sorrisos, desejos... É o contraste de vidas que nos faz encontrar a especialidade deliciosa de cada um. E neste Reino Maravilhoso como na vida, há uma saudável competição entre Deus e os homens para ver quem faz a obra mais fascinante. É em vão. Ele ganhou, quando te fez a ti.
As palavras não chegam para nada.
E neste Reino Maravilhoso a alma expande-se e adquire o seu tamanho normal- andava um pouco tolhida... E o coração ajoelha-se emocionado, sem saber para onde olhar, sem palavras que digam o que ele quer dizer...
Como de outras vezes, tenho a sensação de ser maior do que eu própria... E desta solidão que reclama pertença, brota um sonho que é maior do que a vida.
À minha madeirense preferida que é uma força da natureza
26 de Agosto 09, Jardim Botânico, Madeira
"Pegar numa delas para pôr no jardim (às escondidas do jardineiro) tirar-lhe-ia a vida. Porque a grandeza e a exuberância está no contraste, na diversidade, na saudável competição das suas vaidades. Uma sozinha não atrairia o olhar do viajante. Não faria festa... É como os homens. É quando estão juntos que descobrimos a maravilhosa sinfonia de personalidades, sorrisos, desejos... É o contraste de vidas que nos faz encontrar a especialidade deliciosa de cada um"
ResponderEliminarQue passagem magnífica pikena!..Fizeste uma comparação deliciosamente perfumada. :)
Bem que podias competir com o Eça de Queirós nas tuas fotografias em palavras. No entanto, digo-te que terias para mim um ponto a teu favor: é que não precisaste de 10 páginas para descrever o que fizeste em uma. :)
guarda estes textos, que eu vou guardando alguns € para comprar o teu futuro livro! ;)